segunda-feira, 20 de outubro de 2008
LAMA/CARNE/ESGOTO
LAMA / CARNE / ESGOTO
O que procuro é o contato com a realidade em sua totalidade, do tudo que é renegado, do tudo que é posto de lado, mais pelo seu caráter contestador; contestação essa que encerra uma realidade radical, pois que essa realidade existe, apesar de dissimulada através de símbolos.
Em meus trabalhos, as coisas não são indicadas (representadas), mas sim vividas, e é necessário que se dê um mergulho, que se mergulhe/manipule, e isso é mergulhar em si. O trabalho tem vida própria porque ele é o todos nós. Porque é a nossa realidade do dia-a-dia, e é nesse ponto que abro mão de meu enquadramento como "artista", porque não sou mais, nem especificamente necessito de qualquer outro rótulo e isso, claro, estende-se ao trabalho pois ele não pode ser rotulado, pois não necessita disso nem existem quaisquer outras palavras que o possam enquadrar, pois o que acontece é que o tudo e o nada perderam o sentido de ser.
Portanto, esses trabalhos, no momento em que são colocados em praças, ruas, etc, automaticamente tornam-se independentes, sendo que o autor inicial (EU), nada mais tem a fazer no caso, passando esse compromisso para os futuros manipuladores/autores do trabalho, isto é:....Os pedestres, etc.
O trabalho não é recuperado pois foi criado para ser abandonado e seguir sua trajetória de envolvimento psicológico.
Já realizei alguns trabalhos através de toda a cidade do Rio de Janeiro, fazendo o envolvimento dessa cidade, pois em alguns desses trabalhos usei mais de 500 sacos (peças), espalhando-os por vários pontos diferentes entre si. Nessa dispersão de elementos deflagradores, o importante é que o envolvimento é total, em todos os pontos, ao mesmo tempo, sem um ponto único definido, criando pólos de energia entre si.
Belo Horizonte, 20/04/70